ranzinza

ranzinza

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A máquina universal (do heliocentrismo ao egocentrismo)

O papel do intelectual é ingerir o mundo e devolvê-lo ao próprio mundo com uma porção a mais de razão. Dissecar os seres, explicar os fenômenos, desmantelar os átomos, analisar as correntes, justificar os fatos, etc. Mas eu vejo, e é muito difícil não ver, o retorno da segregação racial, o inferno nas relações humanas, o pandemônio civil, o regramento da liberdade, o desrespeito do estado, a violência, a fome, a miséria espiritual em todas as regiões, etc. O que me leva a questionar o valor dos intelectuais dos tempos pré-modernos. 

 Do heliocentrismo ao egocentrismo foi uma jornada complexa, de difícil exposição breve, mas caminhamos do sol como centro do universo até aqui, onde o nosso âmago – o eu mais intimo - é o centro do universo. Hoje, quando não acariciados por uma parcela representativa de pessoas, temos uma tendência a nos tornarmos depressivos, infelizes, doentes, cancerígenos e coléricos: a solitude traz irremediavelmente a solidão; ninguém consegue se suportar, estar sozinho é o demônio da nossa educação. Somos formados com o intuito de que sejamos destaque, as pessoas que nos ampararam e sustentaram, desejam muito que sejamos melhores que o vizinho. Precisamos nos comparar constantemente – compra-se muito, como forma de poder, para se comparar – e enquanto nos vemos fora dos eixos desses objetivos que acabam se tornando nossos por determinação, nos vemos fora de órbita.

Nossos sonhos não são nossos sonhos, e somos perseguidos se não sonharmos o que querem que sonhemos. Tomamos como nossos esses sonhos coletivos, por medo de não ter com o que sonhar, ou sonhar algo paradoxal á essa maquina universal dos sonhos, cuja manutenção é feita pelo estado, sob a constante vigilância da polícia. Assim é que se dão nossos objetivos, nossa consciência, nossa busca. Ingerimos os espasmos dessa máquina universal e somos educados a amar isso que ingerimos como se fosse exclusividade nossa, pessoal, como se fossemos personalidades. Mas somos apenas um dos vizinhos dos vizinhos.

 Temos cinco sentidos para perceber esse universo, esses sentidos são comuns a todos nós, o que torna o nosso consciente coletivo, a nossa imaginação coletiva, dando vazão às fábulas, lendas, par lendas e mitos; o que eu quero aqui, é representar que das muitas opções que tínhamos á seguir dessa saga do heliocentrismo ao egocentrismo, seguimos cegos apenas o da razão, da ciência, do conforto físico em detrimento do conforto espiritual, o que nos trouxe ao centro desse pandemônio atual e me faz questionar o papel dos intelectuais pré-modernos.

 Algumas pessoas pareceram possuir algum sentido além dos cinco que constituem a razão, essas pessoas foram de encontro ao embalo da máquina universal. São os artistas, eles carregam um histórico de marginalização, desvalorização e repressão. Afinal, em termos gerais, nós temos muitas dificuldades para conceber muitas das formas de abstração e compreender outras formas de realidade, pois somos nós a máquina universal, oprimidos, oprimindo os que não se sentem oprimidos como nós, os ridicularizando e excluindo. 

O papel do artista é ingerir o mundo e devolvê-lo ao próprio mundo com uma porção á mais de sentimento, de abstração, de possibilidades e espírito, ampliar as sensações pela manipulação do real e dessa forma se aproximar de algo além do suporte dos nossos poucos sentidos. A vala cavada pra separar nós de nós mesmos, se deu pela escolha da lógica em detrimento da arte na construção dessa maquina universal que nos transportou do heliocentrismo ao egocentrismo. 


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Nós comemos leões


(Escreve-se na fome)





Somos raquíticos caçadores de leões nada robustos como os do cinema, suas peles e ossos fazem da sua selvageria, violência, da elegância, cólera, e as vacinas com que os picaram na infância, fizeram dos felinos, reis das selvas, epiléticos; nós, raquíticos, porém não ainda ranzinzas, pisamos fino de sola batida e jeans amalgamado de sol, nas suas colas, a espreita fez das nossas vidas silêncio... A caça vara a noite num jogo que não termina, se joga.

Naja nenhuma á de saber do veneno que a fome incita no homem, e pobres são esses leões banguelas de baba grossa, que não cercam nenhum de seus mal tratores, pois apesar de frágeis, sua lisura é de tirar o chapéu com as duas mãos e assistir em silêncio o espetáculo da fome.

Dinheiro nenhum á de reanimar as costelas desajeitadas nos caixões que recheiam os túmulos, tampouco o sono dos filhotes vai deixar de ser um perigo enquanto só o feijão não nos alimentar; cem anos de podridão não deram virtudes a nenhuma família, seja da Colômbia, ou sua prima, Bélgica.

domingo, 11 de setembro de 2011

Algumas linhas sobre a felicidade





Meus pés e tornozelos têm que ser ágeis, as canelas decididas, os joelhos flexíveis, e as coxas com os fêmures, resistentes, pois acima do meu quadril, que por sua vez têm que ser fiel, vem meu peito, tórax, ou como preferirem, para dar um dos suportes á minha cabeça.




Eu tenho que ser confiante, preciso ser leal, diferir os sentidos das palavras, a minha reflexão á dos espelhos, preciso refletir, aprender, interligar os conhecimentos, criar, sorrir na angustia quando a situação for formal, separar a sociedade por camadas como uma cebola e lidar com as mazelas, no fim acabo me simplificando, me olhando como um computador, descentralizando meu sentimento para o coração, já que computador ainda não tem sentimento nem coração, atribuo um ao outro em mim (1+1=2), ainda tenho que tentar acreditar que o formato desse órgão que pulsa agora nuns oitenta batimentos por minuto dentro de mim, tem o mesmo formato das almofadinhas que temos que comprar nos dias dos namorados, escritas “I love you”, além de me vacinar contra os inúmeros tipos possíveis de vírus, eu preciso saber o que são todos os impostos que descontam na minha folha de pagamento, limpar o que o meu cachorro faz pelos cantos da casa, e ainda dar um nome carinhoso pra ele e decorar de seis em seis meses um punhado de novos nomes de alunos das mais variadas aparências. Assim como de manhã tenho que jogar as colheres de café no coador, sem tempo para escrever o que penso, nem sempre quando acabo o dia sem voz e quase sem mais nervos nos braços ou no cérebro, posso beijar a menina que eu amo. Às vezes sim. Às vezes não.


Tudo embaixo dos meus pés corre, tudo na frente do meu nariz morre, e esse sufoco de um, que é o sufoco de todos, trouxe das guerras e apedrejamentos esse combinado de conceitos que eu preciso assimilar para poder ser digno, e com sorte, feliz.





sexta-feira, 22 de julho de 2011

O amor não é pra sempre!




Outro dia, por mais de uma aula, tive que aturar a ladainha de um professor assinando embaixo das palavras do Shakespeare que diziam que o amor existe por si só, sempre existiu e sempre existirá.
Permitam-me duas coisas: lembrar que historicamente a Europa sempre influenciou a America, colonizadores sempre colocaram as botinas na cabeça dos colonizados, e permitam-me lembrar também que Shakespeare, enquanto artista, esteve colocado no cerne da cultura e influenciava, assim, o pensamento e postura de qualquer cidadão; duas permissões que vocês me deram, que me levam á conclusão que um professor brasileiro, de literatura em nível universitário concordando com o que Shakespeare dizia não é algo para se espantar, isso se eu fosse um retardado e não percebesse que se o amor tivesse sempre existido, dinossauros, bactérias e pedras seriam capazes de amar, e tampouco a nossa servidão (ao menos cultural) a Europa acabou, como o que Shakespeare escreveu sobre o amor, foi escrito antes da revolução industrial, da invenção das máquinas, quando ainda acreditava-se ser o ser humano uma espécie eterna, hoje, busca-se freneticamente o desenvolvimento sustentável e a manutenção dessa nossa espécie, que inventou o amor.
Permitam-me, dois ou três leitores, na minha posição de aluno de professor fã de Shakespeare, aqui no subúrbio do interior do meu país sul americano desconstruir a afirmação desse grande poeta inglês, e lhes dizer que não só o homem não é pra sempre, como também não é o amor.


sexta-feira, 15 de julho de 2011

As coisas mais importantes eu pego com a mão esquerda

Assim como eu tenho dois olhos,
Dois braços e duas metades do coração,
Toda a minha anatomia se divide igualmente,
Simples,
Já meu cérebro, Coisa aparte de todo o meu resto,
Me carrega por valetas das quais não posso fugir,
Por isso de multiplas escolhas cotidianas de coisas,
Seleciono, até o dilema das duas últimas,
E as coisas mais importantes pra mim, eu pego com a mão esquerda

quinta-feira, 30 de junho de 2011

E então eu dormi!

E então eu dormi! Não só dormi como sonhei, e como os sonhos sempre tem um pé na realidade, eu escrevia, mas como o outro pé é numa outra realidade meio que distante, o que eu escrevia era um conto (nunca consegui escrever um conto na minha vida) talvez de algo que acontecesse na França mas tenho a sensação que fosse na Guiana Francesa, o fato é que nos nossos sonhos a realidade e o fantástico estão sempre ligados por uma forma surrada de engembramento ( do Francês: enjambement) e é fácil se perder, assim como as meninas que sonham muito em ser princesas e se acostumam com a fantasia, enquanto do outro lado (no outro pé) os piás do são João querem quebrar as vitrines das lojas de roupas, maquiagens, videogames, tênis, fantasias, enfim, não se acostumam com nenhuma realidade, fico me perguntando se esses piás, que furam a pele e se tatuam com tinta de caneta, sonham como eu sonho quando durmo, com o que sonham? Será que iriam quebrar a vitrine de uma loja de chocolates finos no pé da torre Eiffel se estivessem de férias em Paris? Deve ser muito gostoso sair do bairro são João e comer um petit gateau em Paris, ou será que não? Seria mais prazeroso quebrar a vitrine? Que tipo de culpa esses piás devem sentir? Nos meus sonhos eu não consigo conceber um sentimento de culpa, o existencialismo do Sartre se exacerba, aqui nessas faculdades mentais ininteligíveis, é difícil transportar fatos da realidade dos sonhos e querer interpretá-los na realidade dos vidros que se quebram; meu conto se tratava de um menino, desses negros carecas estereótipos dos jogadores da seleção brasileira muito parecidos com os da seleção francesa (guiana francesa tem seleção?) e já que o mundo é uma bola assim como minha cabeça e os pensamentos andam em círculos assim como minha caneta enquanto eu escrevia o conto o nome do menino era romulo, e todos os ornamentos do seu corpo e os trejeitos dos sons oblíquos do violão afinado numa escala peculiar vindo dos muitos espíritos que apresentou o menino ao longo do conto são costurados enigmaticamente no enrolar do meu trabalho (eu sonhava com a caneta costurando o papel) quando romulo era não muito mais do que um saqueador-agitador-militante cujo objetivo naquele capitulo era conseguir roubar um livro do Platão que dizia que o corpo era uma espécie de jaula da alma e que com a desintegração do corpo a alma se elevaria  ao seu lugar natural: o universo; que quando dormíamos a alma flutuava liberta do corpo por todo o mundo, e num diálogo sentado numa mesa com uma menina, com um olho azul e o outro cor de mel, ela explicava pra ele que a alma era enclausurada dentro do corpo novamente no exato momento em que se acordava! 

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Eu não queria dormir essa noite



Eu não queria dormir essa noite




Não me sinto confortável em me desligar

Não confio nos passos dos meus pulsos

Como se um enxoval negro fosse me envolver


Estou com medo


Num pandemônio de tragédias

A vida engatinhou até aqui

Memórias derretidas, remoldadas, viram imaginação

Ficcionalizo o futuro

Com dentes plantados nas gengivas

Sou um adulto com medo do escuro

Eu não queria dormir essa noite



Nessas noites meus vizinhos não fazem festa

Condomínios são asilos

Quilos de merda esgotada debaixo do chão

Quilos de gente esgotada na superfície

Demônios subterrâneos

Parecem esperar na porta do meu sono

Eu não queria dormir essa noite



sexta-feira, 29 de abril de 2011

Como saber se você está apaixonado.




É quando você emotiva o real que você se apaixona.


Quando o cotidiano muda de forma, como olhar o mundo do outro lado de uma garrafa pet cheia d’água, ou olhar pra frente com seus olhos de vidro embaçados depois de uma baforada quente no inverno.
É quando o amarelo do bulbo da lâmpada se torna tristeza caso você não esteja sendo tocado, que te faz perceber que carrega uma paixão.

 
È o descompasso do fôlego na aproximação dos narizes, e a conseqüente timidez das mãos, a engenharia da tua paixão.

Se pegar desprevenido de assuntos depois de um mergulho em recortes de cenas e fragrâncias, ou o incômodo do toque de músicas clichês, planos para o inverno, primavera e férias, olhar para o telefone e se embebedar de imaginação e angústia por ele continuar quieto, e é quando você banaliza com alegria, e faz com consciência coisas que antes não faria nem bêbado, faz cálculos das horas, dias e minutos, e fica medindo as palavras de todos os ângulos possíveis, e analisa os gestos, é porque você está apaixonado.


Quando o sorvete de baunilha, melancia, côco, kiwi e chocolate, todos tem o mesmo gosto, é porque o teu sábado á noite, vai ser um dos piores sábados a noite da tua vida, caso a outra pessoa não esteja afundando os dedos nos seus cabelos e te encantando com qualquer brincadeirinha com a lata de coca-cola vazia.
É quando você emotiva o real que você se apaixona, e nessas motivações estão as vibrações dos metros de corda do corpo, e vibrar é viver, e também (com certa timidez) é depois de ter costurado centenas de milhares de linhas argumentativas na sua vida e então se pegar escrevendo um texto com uma cara tão boba, que você sabe que está apaixonado.


Ah! A propósito, antes que eu me esqueça, como faz pra saber se você está apaixonado?
Só de você querer saber se está apaixonado, já é um grande indício de que esteja, mas pra tirar a prova real, escreva!


Foto: Leo de Paula


www.andofotografando.blogspot.com






domingo, 13 de março de 2011

Você é de um mimo que só!




Você é de um mimo que só!



Desde criança quando tinha fome, esperneava e chorava, até meterem um peito na sua boca, você chorava ainda mais e fazia tua mãe passar a maior vergonha no supermercado se ela não te desse o chocolate que você queria, e ela sempre deu.

Você sempre culpou a escola, os professores, sempre fez seus pais acreditarem que os seus amigos eram a má influencia, você sempre culpou o mundo e manipulou as coisas dentro de casa, hoje, maior parte do seu tempo você dedica a um mundo virtual, se expõe incansavelmente com frases e fotos, como se todos ouvissem o que você diz ou olhassem pra você!


Por quê? (pergunta que você começou a se fazer tarde demais)


Pois quando sua mãe te dava a porra do chocolate, ela te ensinava a exigir dos outros o que você não conseguia se dar; hoje você não acredita em você mesmo e quer que os outros acreditem em você, você não consegue se olhar e se expõe desesperadamente, faz tudo pra que te olhem, você não consegue se amar, assim exige amor dos outros e transforma sua vida numa cadeia de relacionamentos mal sucedidos, eu te pergunto: o que você vai fazer?


Foto: Leo de Paula

http://www.andofotografando.blogspot.com/

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Homem

Nossa animalidade por vezes congela o homem que existe em nós, e insensíveis, nossa intuição não nos aproxima de quem gostamos, pois queremos a matéria, a coisa, a carne, mas isso não alimenta, isso mente, não mostra a companhia que você é, não trás ninguém contigo na maior parte da tua vida, que é quando você está sozinho.
A maioria das mudanças que ocorrem em nós, precisam de tempo, mas as vezes de repente, encontramos coisas, nos deparamos com fatos, ou conhecemos pessoas, que fazem agente perceber como um e um só são dois se você vê a sua vida como um jogo, fazem você ver como o animal congelava o homem em você, e então a ausência física não faz mais você se sentir sozinho, a carne só alimenta o ego, e você não precisa mais encher com intenções o seu discurso, não existe nada mais óbvio, nada mais pobre, nada mais animal do que carregar o seu discurso com intenções, dizer uma coisa buscando outra.
De repente você se faz homem e se depara com alguém a ser cuidado, que te faz companhia na maior parte dos seus dias, que é quando você está sozinho.

Foto por: Leo de Paula   http://www.andofotografando.blogspot.com/

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Os meus olhos e as cidades que conheço




Animais não gostam de ficar acorrentados ou engaiolados, e os moradores de rua mexendo no lixo imaginam uma comida limpa, industrializada; as casas simples se espalham conforme as ruas, veias da cidade, se derramam pelas antigas montanhas, paredes e tetos protegendo crianças, velhos e adultos, do vento, do frio e da chuva, a realidade assim se desenha, fraca, cancerígena, de múltiplas cores e estilos predeterminados, necessidades são criadas em todo mundo, e a felicidade é européia, praiana ou desfila no SPFW.
Nossos olhos divergem toda vez que encontramos nós mesmos, e da mesma forma que a voz dentro da caveira é diferente de fora, nossa imagem é relativa. Nossos sonhos são sonhos de consumo e que o ópio disfarce essa lacuna nas nossas vidas, que os orgânicos que somos, seja mascarado pelas crenças divinas, afinal, nossa necessidade é competir e não necessariamente viver, nossa necessidade é vencer e não necessariamente existir, e assim nos tornamos uma espécie suicida, gloriosa, glamurosa; dentro de cada parede que protege uma família, existe uma TV relativa á sua classe, criando uma necessidade insaciável, e o inferno sendo os outros é também os olhares que te cercam na fila de espera do SUS.
Precisamos aprender a ficar quietos e sozinhos, precisamos respeitar nossas gastrites, nossa dor, nossa paixão, nosso amor, precisamos saber pilotar esses nossos olhos divergentes através das cidades.


Foto por: Leo de Paula    http://andofotografando.blogspot.com/