ranzinza

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quinta-feira, 30 de junho de 2011

E então eu dormi!

E então eu dormi! Não só dormi como sonhei, e como os sonhos sempre tem um pé na realidade, eu escrevia, mas como o outro pé é numa outra realidade meio que distante, o que eu escrevia era um conto (nunca consegui escrever um conto na minha vida) talvez de algo que acontecesse na França mas tenho a sensação que fosse na Guiana Francesa, o fato é que nos nossos sonhos a realidade e o fantástico estão sempre ligados por uma forma surrada de engembramento ( do Francês: enjambement) e é fácil se perder, assim como as meninas que sonham muito em ser princesas e se acostumam com a fantasia, enquanto do outro lado (no outro pé) os piás do são João querem quebrar as vitrines das lojas de roupas, maquiagens, videogames, tênis, fantasias, enfim, não se acostumam com nenhuma realidade, fico me perguntando se esses piás, que furam a pele e se tatuam com tinta de caneta, sonham como eu sonho quando durmo, com o que sonham? Será que iriam quebrar a vitrine de uma loja de chocolates finos no pé da torre Eiffel se estivessem de férias em Paris? Deve ser muito gostoso sair do bairro são João e comer um petit gateau em Paris, ou será que não? Seria mais prazeroso quebrar a vitrine? Que tipo de culpa esses piás devem sentir? Nos meus sonhos eu não consigo conceber um sentimento de culpa, o existencialismo do Sartre se exacerba, aqui nessas faculdades mentais ininteligíveis, é difícil transportar fatos da realidade dos sonhos e querer interpretá-los na realidade dos vidros que se quebram; meu conto se tratava de um menino, desses negros carecas estereótipos dos jogadores da seleção brasileira muito parecidos com os da seleção francesa (guiana francesa tem seleção?) e já que o mundo é uma bola assim como minha cabeça e os pensamentos andam em círculos assim como minha caneta enquanto eu escrevia o conto o nome do menino era romulo, e todos os ornamentos do seu corpo e os trejeitos dos sons oblíquos do violão afinado numa escala peculiar vindo dos muitos espíritos que apresentou o menino ao longo do conto são costurados enigmaticamente no enrolar do meu trabalho (eu sonhava com a caneta costurando o papel) quando romulo era não muito mais do que um saqueador-agitador-militante cujo objetivo naquele capitulo era conseguir roubar um livro do Platão que dizia que o corpo era uma espécie de jaula da alma e que com a desintegração do corpo a alma se elevaria  ao seu lugar natural: o universo; que quando dormíamos a alma flutuava liberta do corpo por todo o mundo, e num diálogo sentado numa mesa com uma menina, com um olho azul e o outro cor de mel, ela explicava pra ele que a alma era enclausurada dentro do corpo novamente no exato momento em que se acordava! 

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Eu não queria dormir essa noite



Eu não queria dormir essa noite




Não me sinto confortável em me desligar

Não confio nos passos dos meus pulsos

Como se um enxoval negro fosse me envolver


Estou com medo


Num pandemônio de tragédias

A vida engatinhou até aqui

Memórias derretidas, remoldadas, viram imaginação

Ficcionalizo o futuro

Com dentes plantados nas gengivas

Sou um adulto com medo do escuro

Eu não queria dormir essa noite



Nessas noites meus vizinhos não fazem festa

Condomínios são asilos

Quilos de merda esgotada debaixo do chão

Quilos de gente esgotada na superfície

Demônios subterrâneos

Parecem esperar na porta do meu sono

Eu não queria dormir essa noite