ranzinza

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segunda-feira, 16 de junho de 2014



’Estava calor aquela tarde e o vizinho da frente escutava aquela música chamada “My girl”, quando eu abri a porta do meu apartamento e dei de cara com a minha mãe morta. Caída no carpete da sala toda vomitada. Não, não era 1950, Eu sei que vocês tem a imaginação coletiva cinematográfica seus idiotas, era 2017.’ Era o trecho que estava grifado, bem na página que ele abriu aleatoriamente, do livro que ele escolheu também aleatoriamente, na estante da biblioteca pública naquela tarde tediosa. Fechou o livro no mesmo instante e fez o empréstimo para quinze dias.” A gente gosta de ler, na verdade, coisas que lêem a gente. Essas coisas – bons livros, boas músicas, boas pessoas – tornam a gente especial e nos ajudam a lidar com a nossa própria desgraça.  

domingo, 8 de junho de 2014

Tudo neurótico



Neurose é ficar defendendo uma ideia singular demais que já foi vencida, pelo ambiente, pelo tempo, ou pelas pessoas ao redor. Como achar que todos devem se vestir como se vestia há cinquenta anos porque é mais bonito; como achar que tal quadro é melhor para tal parede, sem cogitar a possibilidade de qualquer outro quadro ali, mesmo que todos digam o contrário; como dizer que homossexualidade pode ser curada; ficar brabo com o garçom porque foi pedido suco de laranja e veio de maracujá; ler a manchete da notícia que o aborto foi legalizado, sem saber como, quando, porquê e onde, e sair praguejando contra o mundo. Trocando em miúdos, neurose é não admitir uma postura diferente da sua. E em outro contexto, neurose é culpar exclusivamente o governo pela vida em que não se está feliz em viver. Achar que levantar cansado na segunda-feira e ter que ir trabalhar é culpa da copa, ou do PT.

E como vejo tanto isso por aí, cheguei à conclusão que estão todos neuróticos.

O problema não é a copa, talvez seja o fato de percebermos que temos como fazer copa, - temos como fazer duas copas!-, e não temos escolas?! Quanto milho jogado para os neuróticos aí nué? O problema é percebermos que não foi do interesse do governo, até então, fazer escolas, mesmo tendo condições. Mas isso não era segredo pra muita gente, e isso já há dois séculos.

Ofereço então duas vertigens aos neuróticos, que são em geral des(mal)informados:
1ª - A grana dos estádios, que compete ao governo, é equivalente, dizem por aí, à grana do mensalão PSDB'ista que não foi para investigação.

2ª - Se produz no mundo dez vezes mais ração para animal, do que comida para ser humano, mesmo com uma fração significativa da gente passando fome, e, pasmem!, o responsável pela vida do McDonalds é você, não o PT.

(Neurose é desqualificar meu texto por achar que minha pontuação está errada, e [2º] me odiar por votar na Dilma)

Neurose então é culpar o PT, a Dilma, o Neymar, o Ronaldo Gordo, o Pelé, o frei, eu, etc., pelo peso das vidas que nós mesmos não fizemos suaves. A nossa felicidade é coisa singular demais, e o governo não a alcança.

No fim, talvez o neurótico seja eu que pensa que está todo mundo neurótico, mas é que estou aqui tomando meu drink sozinho porque todos os meus conhecidos estão tomando prozac e não podem beber.