Um,
dois, três, quatro tiros em intervalos iguais entre si. Os ecos acontecem
afinados e a onda de algo que se desmancha vai para a esquina... A multidão
alvoroçada dispersa e abandona os quatro cadáveres ao redor do dono do mundo
daquele instante. Carlos Alberto coloca a pistola quente na cinta e vai embora
de carro tranquilo.
A
mesma população miserável e vítima de uma ordem social escrotamente injusta a
quem só resta acreditar que há alguma justiça universal, “aqui se faz, aqui se
paga”, acredita também na polícia. Mas Carlos Alberto comeu e tomou cerveja
normalmente em todos os dias seguintes da sua vida, viu televisão, apostou na
rinha de galo, depositou o dinheiro da pensão, etc., etc., etc.
O
mundo é como uma roldana sem azeite e a mente como o fluxo do transito de Nova
Deli dentro de uma caveira. Olhos? As vezes é melhor não tê-los, principalmente
se você é filho do hemisfério sul do mundo, mas não sejamos injustos: um país
bonito não evita todo o sofrimento do coração humano.
Um,
dois, três, quatro tiros em intervalos iguais entre si. O Goiás garantiu a vaga
para a pré-libertadores esta noite, Carlos Alberto voltou da janela e colocou a
pistola quente em cima da mesa da cozinha. Algo no coração tropical dele sorri
e na sua cabeça esse sorriso é banguela. O sorriso que deveria dispersar nos
instantes seguintes é fomentado nos dias seguintes pelos bate papos esportivos
de jornalistas que ninguém sabe quem são, de onde vêm ou pra onde vão.
Os
dias se intercalam em intervalos iguais entre si. E quando o Goiás perdeu a
pré-libertadores para o Pachuca do México muita gente já era caveira e muito
verme já tinha virado borboleta. As árvores ainda eram plantinhas, mas o som da
vida seria perpetuado não mais pelos gemidos da gente mas o chilro das folhas
das árvores que os mortos adubam.
No
fim só há música.