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quarta-feira, 5 de junho de 2024

NA BAÍA DE GUANABARA BRÁS CUBAS PARTIU A LISBOA


 Ontem fez aquele frio gelado e escuro que me dá vontade de morrer, hoje pelo motivo oposto estou querendo estar vivo. Quando quero estar vivo nunca é no sentido ansioso de celebrar a vida, nunca vi ela como uma dádiva, um presente e essas coisas imbecis. É só que está tudo bem estar por aqui, aceitando esse grande acaso que é possuir um corpo. As vezes tenho raiva de estar aqui, geralmente quando está frio, porque se soma a isso eu ser pobre, a cidade ser suja e um dia eu ter que morrer involuntariamente. 

Será que esses impulsos de morte tem a ver com o medo da morte obrigatória? Tipo aquelas pessoas que preferem odiar por medo de amar?

Não sei.

Minha situação de morar com a Allana não se resolveu até agora e estou cansado para comentar sobre isso. Mas está em vias de acontecer, e o meu foco principal é conseguir escrever a minha tese, à qual estou bem engajado e por isso estou ignorando toda a problemática de CASAmento. Se me perguntar, não quero! Mas cheguei a terminar o relacionamento, no dia seguinte me senti tão sozinho que tive a certeza de ter feito a coisa errada, ela topou voltar.

Estou engajado na tese porque a universidade está de greve, então estou com um tempo livre que ocupo com a teoria, a escrita, elaboração de ideias e etc. Neste exato momento estou aqui na utf, sozinho com o computador, organizado para mais um dia de escrita. Essa tem sido a minha rotina, dormir legal, fazer academia de manhã e vir para a universidade a tarde escrever a tese. Tenho alguns alunos particulares para quem dou algumas aulas de inglês a noite, média de 19h30 ou 20h. Isso me cansa. 

Recentemente li Dom casmurro, agora estou lendo Memórias póstumas. Estou ainda no primeiro terço do livro. Uma pérola. Já ri duas vezes, acho que nunca ri com a literatura, estou identificado com o cinismo do defunto autor: a vida é esse negócio medíocre que a gente insiste em dar alguma iluminação. Talvez um dia depois que eu morrer eu me veja um pouco como Brás Cubas, um pouco bobo, um pouco cínico, um pouco apaixonado, sem ter delegado a nenhum miserável a existência.

Aliás, semana passada eu e Allana fomos para o Rio de Janeiro. Realizei um sonho. Quero morar lá depois que terminar o doutorado, amei muito o lugar, as pessoas, a coisa toda. Não tem essa higiene hipócrita curitibana, e não falo da cidade, falo da neurolinguistica, a sinceridade realista, um tipo de desapego, e esse jeito de escritor de crônica dos cariocas me pegou. Ficamos na zona sul, um extrato especial do rio, mas a gente carioca é a mesma e o mar é maior que o chão.