Herança da química
original
Uma vez existiu um
deus
Cabeçudo e capcioso
Com um machadinho em
cada mão
Assassinava,
assassinava
Um por um seus
inimigos
Parecia o cão.
Reescreveu a
historia
Se fez único e
central
Gozou no universo
Logrou os caixas de
todos os núcleos de tempo e espaço inalcançáveis por nós – diga-se de passagem:
restos miseráveis
Apertou a corda da
capa no pescoço
E engatinhou à
perfeição
Sem culpa, sem cor,
sem matéria
Sem a porra de um
animal de estimação
Houve uma vez um
deus – lugar comum chamá-lo de menino brincalhão
Não era deus de
ninguém porque não era
Só se concebia
Quando sequer o
granito existia.
Praias inexplicavelmente
lindas tinhas ondas já quebrantes antes mesmo da ideia de homem soprar no mundo
Mas esse deus já
fazia buracos e cortava, cortava todas as concepções
Com a aspereza de
ser absoluto
Nítido
Livre
Selvagem
Verdade
Pureza
Vida
Houve certa vez um
deus
Anterior ao aramaico
Indefinível em
qualquer idioma
Qualquer poesia