Ele matou ela pra
poder se matar em paz. Não há mistério nisso. As coisas são como são.
O mistério está no giroflex.
O mistério está no camburão do carro do IML sendo preenchido com os cadáveres.
O mistério está, na verdade, em cada espectador que precisa ser igualmente preenchido, com mistério.
Ela queria a
separação.
Equivalente à
verdade do espectador ou o camburão antes de receber as bandejas com os
cadáveres, a depressão também é a doença do esvaziamento, o suicídio é uma
espécie de casamento nesse caso, uma retirada. O suicidassassino sofria da depressão por conta da sua mulher, que acabou morrendo junto com ele, então ela é uma suicida de alguma forma.
Se você acha idiota morrer
por amor leia este trecho: é como se ela tivesse jogado ele na piscina e eles
tivessem morrido de pneumonia, ela por contágio da doença dele.
Se você acha casual morrer por amor: é como se tivessem morrido por conta da AIDS.
No Banheiro, ele deu um tiro na testa dela e outro na própria boca.
No Banheiro, ele deu um tiro na testa dela e outro na própria boca.
Por que a polícia
deixa os giroflex ligados quando os corpos já foram levados e os curiosos permanecem
no local? Para dar a carniça às hienas, claro.
O policial desligou o
giroflex, saiu do quintal de ré, manobrou no meio da rua e foi embora. As
dezenas de pessoas se dispersaram em sincronia. Alguém trancou a porta da
frente da casa e se perdeu na esquina.
A casa permaneceu,
com as luzes apagadas.
A Ausência é a verdade,
toda presença é passageira.