ranzinza

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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

BRINCANDO DE TRADUTOR DA 6ª PARTE DO "POEMA DE SETE FACES"



"Mundo mundo vasto mundo
Se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima,
Não uma solução.
Mundo mundo vasto mundo
Mais vasto é meu coração."
"World world vast world
If I was called Harold
It Wouldn't be a solution,
The rhyme'd just be smart.
World world vast world
Vaster is my heart."
"Mundo mundo vasto mundo
Si yo fuera Raimundo
Sería una rima,
No una solución.
Mundo mundo vasto mundo
Más vasto es mi corazón."
"Monde monde vaste monde
Si je m'appelé Edmond
Ce serait pas une solution,
Mais une rime génériqueur.
Monde monde vaste monde
Plus vast est mon cœur."

terça-feira, 29 de setembro de 2015

O GROOVE DO VERDADEIRO ASSASSINO




Um, dois, três, quatro tiros em intervalos iguais entre si. Os ecos acontecem afinados e a onda de algo que se desmancha vai para a esquina... A multidão alvoroçada dispersa e abandona os quatro cadáveres ao redor do dono do mundo daquele instante. Carlos Alberto coloca a pistola quente na cinta e vai embora de carro tranquilo.

A mesma população miserável e vítima de uma ordem social escrotamente injusta a quem só resta acreditar que há alguma justiça universal, “aqui se faz, aqui se paga”, acredita também na polícia. Mas Carlos Alberto comeu e tomou cerveja normalmente em todos os dias seguintes da sua vida, viu televisão, apostou na rinha de galo, depositou o dinheiro da pensão, etc., etc., etc.

O mundo é como uma roldana sem azeite e a mente como o fluxo do transito de Nova Deli dentro de uma caveira. Olhos? As vezes é melhor não tê-los, principalmente se você é filho do hemisfério sul do mundo, mas não sejamos injustos: um país bonito não evita todo o sofrimento do coração humano.

Um, dois, três, quatro tiros em intervalos iguais entre si. O Goiás garantiu a vaga para a pré-libertadores esta noite, Carlos Alberto voltou da janela e colocou a pistola quente em cima da mesa da cozinha. Algo no coração tropical dele sorri e na sua cabeça esse sorriso é banguela. O sorriso que deveria dispersar nos instantes seguintes é fomentado nos dias seguintes pelos bate papos esportivos de jornalistas que ninguém sabe quem são, de onde vêm ou pra onde vão.

Os dias se intercalam em intervalos iguais entre si. E quando o Goiás perdeu a pré-libertadores para o Pachuca do México muita gente já era caveira e muito verme já tinha virado borboleta. As árvores ainda eram plantinhas, mas o som da vida seria perpetuado não mais pelos gemidos da gente mas o chilro das folhas das árvores que os mortos adubam.


No fim só há música.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Kikuji Kawada, Sunspot And A Helicopter, Tokyo, 1990

O SELVAGEM MORTO

Veja este índio escalpelado

Sendo puxado das profundezas do lago

Gelados

Puxado pela corda do seu pescoço

Olhos bem abertos sem expressão

Brancos

A relva e a neblina são tão ele quanto o descaso

A caveira do macaco e o bebê retardado

Quietos

As máscaras bestiais que falam as línguas cristãs

Fazem a história numa dança de vultos em torno do fogo

Ensopados

Aqueles que escreveram o mundo com rosários nas mãos

Eliminaram estes que têm o sangue no mesmo curso da seiva

Mortos


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Roupas


Como a máscara dos que dormem de máscara
E na manhã seguinte descobrem que nunca mais a desgrudarão do rosto
As roupas são o tecido tênue que divide o homem e o mundo
O real e o fantástico
Então não se esqueçam que de tão pegadas ao corpo
As roupas confundem-se com nós
Mas são só coisas
As roupas são a pele da ética
Elas são o limite entre o homem em paz e o mundo cão
A coisa limítrofe entre duas verdades
As roupas são o sinal mais luminoso que diz que o homem precisa da ficção
As roupas são a primeira escolha diária de cada homem
E também a primeira expressão
As roupas são a dica de que não há como fugir das abstrações
As roupas são de alguma forma a natureza de todas as loucuras
As roupas podem gritar mais do que muitos quadros
Elas apontam o dedo em tom de inquisição
Seja pra quem as veste ou as repara
As roupas confeccionam ideias absurdas
E afirmam como verdade todo absurdo
São a origem das fofocas?
As roupas são o fio fino e transparente que junta e divide a verdade da mentira
Como o rio negro que se encontra  e se divide de outro rio
As roupas protegem da lama
Outras roupas protegem do sangue do paciente
Outras roupas identificam o garçom
Esse tipo de roupa divide a gente toda do mundo como pedaços uniformes de uma pizza
Os outros tipos de roupa podem autenticar indivíduos
Mas estas também muito facilmente se tornam cópias das cópias das cópias
E logo a pizza vira uma bagunça uniforme mais uma vez
Onde estão todos sendo woompa loompas achando que são Srs. Wonka
 As roupas são a extensão sem fronteiras do homem
As roupas são o reflexo que o homem precisa criar de si mesmo
Para que constitua sua identidade
As roupas são o próprio personagem do homem e não o seu figurino
As roupas talvez sejam bloqueadoras de sonhos e ferramentas dos pesadelos
Mas são sem dúvida o porquê do tesão
E da riqueza da indústria pornô
As roupas desenham o mundo
Mas quem as desenha só desenha cifras de bucks
A eletricidade das multidões têm livre arbítrio e poder
Poder de um sobre o outro e do outro sobre um
E ninguém das multidões percebe as passarelas das Fashion Weeks
Cada um de todos os homens do mundo quer existir para cada um de todos os homens do mundo
E por isso gasta o dinheiro do seu trabalho em roupas plurais
E sai com elas de casa para o universo
E se o homem não quer mais escolher suas roupas ele já morreu
E sabe disso
E se o homem julga outro homem como gay por escolher bem sua roupa
Esse homem é brasileiro
E se no Brasil um homem escolher muito bem sua roupa ele é gay
E se na França um homem não escolher bem sua roupa ninguém fala com ele
Isso eu inventei
Há passagens na bíblia sobre as roupas do céu ou do inferno?
O Chico Xavier falou algo?
As roupas são a maior gaiola terrestre
As roupas são a grande chave social
Há maldade maior do que ensinar aos índios o que é pecado?
Jogaram-lhes roupas na cara e borraram suas pinturas
As roupas transformam qualquer homem em tudo o que ele quiser ser além dele mesmo
E ele pode ser tudo o que quiser desde que as compre
Ou tenha o direito de as usar
Como um padre ou um juiz
De futebol
Mas assim as roupas também ensinam aos sábios
Que somos apenas uma coisa
E por meio delas estamos o quanto desejarmos
Veja
Um homem pode estar padre desde que vista a batina
Pois amanhã pode estar juiz desde que carregue um apito e cartões
Mas se as roupas caíssem deste homem para sempre?
Ele estaria condenado a ser
Mas o fato é que as roupas caem e sobem
No corpo ou no Cabide
Abrem e se amarram
Por trás ou pela frente
Há ainda os ridículos que colocam roupas em seus cachorros
Haja perversão!
Mas as roupas sempre estarão dizendo em silêncio tudo o que precisa ser dito
Nada
E ao dizerem isso dizem o essencial
Sejamos livres.