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sexta-feira, 10 de novembro de 2023

MINHA LEITURA DE "PRIMEIRA PESSOA DO SINGULAR"

 Estava lendo os posts abaixo, e no de título Cidades Invisíveis escrevi que queria ler este livro, assim como queria ler o Primeira Pessoa do Singular, do Murakami e falei que estava com saudades do meu irmão, e estava apreensivo sobre o resultado do processo seletivo da UTFPR. 

Sobre a UTFPR eu já escrevi sobre como fui aprovado e estou me encaminhando para o fim desse primeiro semestre de trabalho lá. Também fiz uma leitura muito boa do livro do Italo Calvino, assim como já comprei e já li o livro do Murakami, para o qual eu daria notas altas se fosse um avaliador de livros. Eu consigo compreender as sensibilidades do que está posto lá, as sutilezas das relações que alegram e entristecem, as expectativas e os mistérios as incertezas e os sonhos, mas que no fim das contas são a própria vida acontecendo, e esta abordagem de se viver no mundo de um jeito curioso para o que não é comum, mas está normalizado, eu gostei muito. Gostaria de poder ler em japonês, no original, porque os contos estão deslizando sobre algo que me parece especialmente musical (Murakami é muito fã de jazz), e tive a sensação de que essa musicalidade da linguagem sempre é matéria fundamental da construção da matéria narrada. Afinal, a boa linguagem tem ritmo, compassos, sonoridade e mexe com nossa adrenalina e nossas ansiedades, como é a música. Inclusive, a música é da matéria do espacial, ela se expande, vibra, alcança, e a literatura está na matéria do temporal, ela se estende, se mantém, sobrevive. Nisso música e literatura são diferentes, mas não antagônicas, porque a nossa experiência do tempo só se dá a partir da nossa observação do espaço, assim como o espaço só se nota por meio do tempo. Posso dizer então que existe uma simbiose meio inevitável entre música e literatura, talvez daí o encanto que a escrita do Murakami (um amante de músicas) causa. 

Acho que estou tentando dizer que os contos de Primeira Pessoa do Singular são sensoriais, que lá tem brisas de outono, cheiros de estádios de beisebol, descrição de uma música composta pelos Beatles que nunca existiu, assim como a proposta de uma Bossa Nova tocada por Charlie Parker ou um macaco-humano peludo lavando as costas do narrador em um ofurô. Eu gosto disso. Porque a vida só não basta, a literatura está aí pra isso, pra fazer a gente mais feliz, ou menos triste. E eu fiquei bem lendo essas memórias do autor, claro, enquanto leitor eu estou vivendo situações interessantes a partir de um lugar seguro, não foi o meu corpo que subiu uma montanha pra ver um concerto que tinha sido cancelado, ler sobre isso é mais confortável do que viver isso, mas é por isso mesmo que eu gosto de ler, porque não quero ficar me fodendo exatamente para conhecer o mundo, Murakami conseguiu me dar, seguramente, boas experiências.