Os
relógios que até hoje levam a marca Quartz, são assim chamados desde 1927,
quando os estadunidenses Warren Marrison e J.W. Horton criaram o relógio de quartzo, material que cria
um sinal com uma freqüência mais precisa que os relógios mecânicos produzidos
até então. Logo a marca se expandiu e a industria dos relógios – despertadores,
relógios de pulso e relógios de parede - foi dominada pela marca.
Como é razoável que aconteça com qualquer marca
em ascensão, a Quartz alcançou os principais mercados para além dos Estados Unidos,
implantou novas estruturas para produção em vários países estrangeiros, o que a
permitiria entrar no comércio destes países de maneira combativa – não
precisando arcar com taxas de importação e exportação –, o que permitiu também
que houvessem lojas específicas da Quartz em todo lugar, sem a necessidade de
recorrer a joalherias independentes para vender seus relógios.
Essa ascensão da Quartz foi explosiva e logo a
sua força era tamanha que os acordos mais variados eram possíveis à marca, que
se tornou alvo de interesses dos maiores empresários da maioria dos países em
que atuava. Contatos com grandes políticos também começaram a acontecer.
Em 1930 o negócio de relógios decaía e a Quartz,
na contramão, iniciava seu crescimento por começar a produzir e vender no
mercado brasileiro, um dos primeiros mercados de interesse da marca fora da
América do norte, que logo foi procurada por Pardal Antunes Mirella, um
parlamentar carioca que propôs à marca algo de uma lisura digna do filme
“Acabaram-se os Otários”: uma parceria para a implantação do horário de verão.
Pardal Antunes Mirella escreveria o projeto
“Horário de verão” para ser votado no senado, sob o pretexto de “economia de
energia elétrica e maior aproveitamento do dia na época do verão”, de forma que
os relógios fossem adiantados em uma hora na entrada da estação, e ao fim dela
tivessem que ser retrocedidos em uma hora.
A peça chave dessa maracutaia é segredo para
todos: os relógios mecânicos todos são produzidos para funcionar apenas no
sentido horário, o seu sistema delicado de engrenagens, cordas, parafusos e
ponteiros, desestrutura-se caso o relógio seja trabalhado no sentido contrário
– sentido anti horário -, o que fez que com o fim do horário de verão, sem
informação a respeito do funcionamento dos seus relógios, quase toda a
população brasileira voltasse o ponteiro dos
seus relógios para uma hora atrás e nos dias seguintes seus relógios parassem
de funcionar, o que teve como resultado um crescimento de mais de 200% nas
vendas da Quartz no Brasil, nos meses seguintes à implantação do horário de
verão anualmente. Desses 200% dos lucros da empresa nesta jogada, 40% eram
destinados ao saldo bancário de Pardal Antunes Mirella, como parte do acordo.
Isso era meados de 1931 e foi a grande jogada da
história da Quartz, que ano após ano lucrava imensamente com o fim do horário
de verão, enquanto a concorrência se desfazia, de onde surgiram os lucros que
permitiram à marca se expandir para a Europa.
Como nem tudo são confetes no mundo cão liberal,
e porcos chafurdam nos diamantes do porão dos clubes de sinuca dos bacanas, o
Brasil sofreu seu primeiro golpe de estado em 1937 e o Sr. Pardal acabou
assassinado na surdina pela sua oposição, o partido de Getúlio Vargas, partido
comunista, e com isso o horário de verão logo deixou de ser adotado, embora
durante os anos da Era Vargas ainda tenha acontecido por algumas vezes
esporádicas, afinal, havia uma determinada economia na energia elétrica nos meses
desse horário alternativo, mas desta vez sem acordo nenhum com empresários.
Depois de todos os tramites históricos que deram
fim à ditadura militar no Brasil - e não nos competem neste texto - em 1985,
Tancredo Neves foi eleito presidente da nação, porém morreu misteriosamente antes
da sua posse, e a presidência ficou com José Sarney, que entre outras medidas,
ainda naquele ano, reestabeleceu de maneira concreta o horário de verão, assim
beneficiando, a agora consolidada, marca Quartz e conseguindo uma fonte
preciosa de renda pessoal, que o permite até hoje ser fotografado em Acapulco.