ranzinza

ranzinza

segunda-feira, 24 de abril de 2023

24/04/2023 - Pandemia. Compra do ap. 2021 e começo desse 2023. Minha situação psicológica.

Passaram mais de três anos desde a última vez que escrevi aqui. Logo depois da minha última postagem começou a pandemia do Coronavírus. Não preciso dizer dos 700 mil mortos e toda a problemática escrota de um país desgovernado, esse registro é universal. Fui muito privilegiado durante esse período, porque continuei recebendo meu salário como Prof. substituto da UTFPR e pude manter isolamento recebendo um bom dinheiro. Mas 2021 me assombrava, porque meu contrato terminaria, e a pandemia continuaria. 

No começo de 2021 voltei para o PSS (professor substituto de escolas públicas), dei aulas em duas escolas aqui do Hauer (meu bairro) trabalhando em condições piores, mesma carga horária, com metade do salário de antes, também comecei a dar aulas particulares de inglês. No fim das contas conseguia ganhar tipo uns 3mil reais por mês. Circulando sempre de máscara, nas escolas esvaziadas, dando aulas nas salas em frente ao computador com alguns alunos presenciais. Na minha memória esse ano todo foi muito frio, lembro de uma sensação de deslocamento e pés gelados. As escolas públicas são espaços tristes para ser professor, com elas esvaziadas então... comigo retornando a um mundo antigo, no meio de uma pandemia, em um cidade que eu estava me adaptando, que é a cidade onde nasci e onde sempre desejei morar... foi um ano estranho que teve efeitos psicológicos em mim (que falo em parágrafo posterior).       

Em setembro desse 2021, num domingo de manhã, uma mulher bem incoveniente da imobiliária entrou no nosso ap. e informou que a gente precisaria sair dali, porque a dona Nilda (dona do imóvel) morreu de Covid e as filhas dela precisariam fazer o inventário. Foi muito ruim essa informação pra mim, fiquei triste pela dona Nilda, toda a carga da pandemia recaía de certa forma sobre a morte dessa pessoa com quem eu falava de maneira tão gentil pelo whatsapp, pessoa que me transmitia uma segurança sobre aquele lugar que morávamos e eu gostava. Eu adorava aquele AP, ainda tenho em mim um desejo íntimo de voltar pra lá. Nos foi oferecida a compra dele, pediram 315 mil, eu tinha 135 mil reais no banco e o financiamento de 180 mil acabou ficando fora do que eu poderia pagar. Eu me senti humilhado por ter que sair de repente do imóvel tão de repente, em um momento que eu estava totalmente focado em escrever meu projeto de doutorado (no ano anterior eu não tinha passado no processo, e nese ano estava tentando dmais uma vez, era meu único projeto de vida, se eu falhasse de novo me sentiria terrivelmente mal), e no meio desse processo agora eu precisaria arranjar outra casa pra morar. Resolvi compar um imóvel, achei esse apê que estou agora, na quadra de trás de onde era o outro, a quadra toda com condomínios homogêneos, só muda as cores dos blocos. Por 210 mil comprei esse ap. no bloco verde. Paguei 105 mil de entrada e financei outros 105 mil: as prestações mensais ficaram cerca de 900 reais. Bem coerente com as minhas perspectivas de renda pra esses anos, e com a renda da minha mãe, que por ora continua morando comigo.

Embora eu tenha feito um negócio muito bom, (o engenheiro da Caixa avaliou o imóvel em 260 mil paguei 210), eu não gosto daqui. Me faz muita falta uma sacada (espaço aberto), estou passando quase todos os meus dias aqui dentro, estou apenas dando algumas aulas online (tenho dez alunos) e estudando para o meu doutorado. Estar nesse ambiente um tanto fechado com minha mãe de certa forma me angustia. Aqui se escuta muito os barulhos produzidos pelos vizinhos, desde batidas de portas, descargas, quando caminham, etc, também os barulhos dos carros na rua. Ano passado foi muito muito dificil pra mim, com meu sono muito leve, a velha que morava em cima tossia a madrugada inteira em algumas épocas, outras duas vizinhas acordam 6 da manhã e fazem muitos ruídos, o vizinhos de baixo dormiam tarde, e em certa altura do ano algum encanamento fazia muito barulho de dez em dez minutos, além disso abriu um pet shop na frente, do outro lado da rua, onde um cachorro com demência não parava de uivar. Agora o cachorro acostumou com o ambiente e já não uiva mais, a velha foi embora no começo desse ano e eu estou tentando me acostumar também, prestar menos atenção nos outros barulhos. Mas não gosto daqui, acho simplório demais, desde a pia do banheiro, até um espaço central que era pra ser a sala da tv, mas que fica muito escuro, mesmo durante o dia. 

Eu estava dentro do meu carro no estacionamento do colégio Guimarães em 2021 (estava bem frio) quando vi o resultado do edital do doutorado da UFPR em que constei na lista de aprovados, eu fui o penúltimo da lista. Me faltou ar. Nunca tinha me acontecido isso. Foi pouco antes do meu aniversário, deixei pra contar pra Allana, minha mãe e meus sogros só no meu aniversário, mas a Allana ficou braba que eu não contei antes, ela viu o edital. Já é meu segundo ano como aluno do doutorado, não ganhei bolsa e produzi muito pouco até agora, basicamente participo de um grupo de estudos com meu orientador em que lemos e debatemos livros sobre a formação do Brasil, atualmente estamos lendo "A História da Riqueza no Brasil" de Jorge Caldeira. Também estou no meio da última disciplina que vou fazer para contar créditos, "O outro de Classe", disciplina do meu orientador mesmo. Os corredores são feios, os elevadores riscados, as pessoas... sei lá, não gosto delas.  

Eu tinha feito duas sessões de terapia em 2019, e voltei a fazer terapia semana passada, a minha cabeça está muito fragilizada. Tenho pensado bastante em suicídio, tenho me sentido extremamente inseguro, incapaz, e sem horizonte. No começo desse ano fiz o teste seletivo para ser professor substituto na UFPR, UTFPR e IFPR: na UFPR não fui chamado nem para a segunda fase, por causa da pontuação do meu currículo, na UTFPR tirei 450 na prova escrita, precisava tirar no mínimo 500 para a próxima fase e no IFPR fiquei em segundo lugar geral, alguns poucos décimos apenas atrás da menina que passou em primeira e ficou com a vaga. Logo depois fui na distribuição de aulas das escolas públicas e não estava com os documentos certos, fiquei sem aulas (nessa mesma manhã, quando fui sair de casa, meu carro não ligou, e eu era um dos primeiros da lista a ser chamado, fui de uber, cheguei atrasado, e não me deram aulas por causa dos docs). Meu ano começou assim, me sentindo totalmente derrotado. E no último mês eu fiquei muito pressionado com a formatura da Allana, os pais dela estavam com as expectativas altíssimas, e eu me sentia pressionado a corresponder, mas sabia que não podia. A formatura foi semana passada, na quarta a noite a colação de grau e depois um bolo com champagne no ateliê da minha sogra, na quinta a noite o culto no alto da glória e uma janta no restaurante gonçalves, com muitos convidados e o vídeo surpresa para a Allana. Me preocupava muito a minha mãe, ela teria que estar lá, mas sei que ela não queria, e eu teria que levá-la e etc. no fim das contas ela foi e veio mais cedo de uber. Sábado a noite ainda teve o baile da formatura, que me custou 350 reais, e a partir da 5h da manhã saíria um ônibus para o after numa chácara que custaria no total mais 100reais. Eu sabia que esse after era furada total, mas a Allana quis ir (ela quer aproveitar a, ser parte da, galera da faculdade) e eu fui também porque estou escravo das minhas inseguranças. O ônibus deu o maior problema com as pessoas, ficou uma hora parado, saímos do baile as 6h da manhã, chegamos na tal chácara e comemos um pão com presunto, todo mundo com frio, cansado, fingindo que estava afim, com um DJ bem normal, viemos pra casa as 8h, de carona no uber com uma amiga da Allana. isso já era ontem, dormi até as 15h, e estou com o sono desregulado, aqui,15h15 da tarde de segunda escrevendo. 

Acho que vou correr. Aqui no prédio tem uma academia com uma máquina e alguns alteres e duas esteiras, bicicleta e tal. Talvez esse seja o único ponto desse apartamento que me deixa feliz. Estou correndo 8km duas vezes por semana, é o meu limite por enquanto, quero chegar a 10 km até o fim do ano, nunca mais joguei basquete, a pandemia bagunçou muita coisa em mim. Coisas que eu não sabia que estavam tão bagunçadas, mas a terapia da semana passada me fez pôr em perspectiva. Ainda me sinto isolado, deslocado e pressionado. Me sinto com dinheiro insuficiente (tenho 58k no banco e uma renda mensal de 2k dos juros e dos meus alunos paticulares). Parece mesquinho escrever isso, mas tenho 34 anos e zero estabilidade, e perspectivas cada vez piores para uma vida adulta. Também me sinto isoladíssimo fazendo o doutorado, tenho contato com pouquíssimas pessoas, tenho que pesquisar coisas sozinho, não há debates. Me falta afeto da Allana, ela é bem sisuda, e minha auto estima é colocada em xeque constantemente. Está um tanto difícil manter essa rotina que se desenhou em 2023 pra mim, embora a formatura da Allana tenha passado, na próxima semana fazemos 5 anos de namoro e também na próxima semana é aniversário dela, eu ODEIO datas comemorativas e todas elas estão aqui, nos mesmos 15 dias (Tudo em todo lugar ao mesmo tempo [preciso terminar esse filme inclusive]). Aliás, nesse ínterim estou estudando para um concurso para professor definitivo do IFPR de Colombo, embora tenham 185 pessoas para uma vaga (risos). Estou confuso, se vale a pena estudar pra isso, mas já estou estudando legislação pra essa prova há meses, que é quase certo que não vou passar. Enfim, as vezes meu desejo é abandonar tudo e todos. Mas vamos criando lastros que não nos abandonam jamais, só com a morte.

Vou lá correr, mais tarde vou escrever sobre a ausência do meu irmão, a crise de ciúmes recente que tive, e meu colesterol. 


Eu hoje depois de terminar o texto e correr 8km em 40 minutos
Selfie de um momento crítico durante a pandemia


Esse urubu, junto com outro sempre aparecem na janela da academia do prédio quando está meio calor.

O ap que comprei, quando o Jair estava pintando pra então eu morar aqui. Essa é a sala que deveria ser a sala de TV, mas que é muito escura porque não tem iluminação direta. Parte do AP que não gosto. 

Essa é a parte que resolvi colocar a TV, pela iluminação e por ser no canto.

Imagem do Ap. antigo, quando fui visitar ele antes de alugar. 

Corredor do Ap antigo

Começo da pandemia

Aniversário em 2020 (Allana fez o bolo pra mim)

Esse jogo foi um escape/vício durante a pandemia, ainda jogo.