ranzinza

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domingo, 22 de dezembro de 2013

Trecho do livro que ando escrevendo e uma das fotos que andei tirando

 7 horas


“Eu tenho 69 quilos, estou em queda livre há uns 20 segundos e estou a um palmo do chão. Com esses dados você consegue calcular o quanto vou demorar pra virar um monte de sangue e carne e ossos e dentes e pelos e membros e órgãos esparramados como nunca antes, ou uma alma indo para o céu, ou um espírito iniciando sua jornada de purgatório, ou um caixão simbólico, ou um pote de cinzas, ou tudo isso junto, ou nenhuma dessas coisas. O fato é que esses teus cálculos não dirão o quanto me resta de vida, porque eu não morro aqui, só morrerei quando a última pessoa de todas as pessoas do mundo que ouviram falar de mim tiver morrido, serei então o nada absoluto, a morte terá lambido o ultimo resquício de mim, mas até esse sujeito, que eu não imagino quem é e nem conseguirei imaginar, morrer, eu estarei vivendo, como memória. Que é o que somos no fim das contas - no meio das contas também, pois foi pra construir a memória da mulher que trabalhava no almoxarifado, na sala depois da sala da Lúcia, que eu sempre combinei minhas gravatas." 

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