Há um problema
em a terra ser redonda, ela não tem um centro. Estou falando da sua superfície,
porque vou falar de pessoas. Aliás, falarei de um bar.
Dizem
que o tempo também é circular, talvez eu tenha nascido no momento do looping do
tempo então em que jovens tem que frequentar coisas como fundos de navios, bunkers,
tavernas, bares, pubs, e beber coisas baratas de baixa qualidade e sentir no
meio do estômago o problema de existir, como se fosse um tipo de solitária
comprida e ansiosa que se desenvolveu na nossa gênese ao longo dos anos. Ainda
não existe uma tecnologia que no dia seguinte não deixe o sabor do álcool voltar
azedo à boca, e a memória não amanhecer embaralhada ou as paredes ao redor da
cama darem a sensação de cárcer.
Os dias seguem
um ao outro, as semanas, os meses, e sempre, como o ponteiro do relógio que
sempre se encontra, muitos jovens se aglomeram na frente do bar. Em geral os
mesmos jovens, em geral os mesmos problemas, em geral as mesmas roupas de
acordo com a estação, geralmente o mesmo estouro das bolas de sinuca,
geralmente os mesmos olhares de canto, geralmente as mesmas frustrações ou
orgasmos, ou devaneios.
Estou falando de
um bar de uma cidade no fim do mundo, aliás, o fim do mundo teria algo de
emocionante, estou falando de um bar em um local completamente deslocado, uma
cidade pequena, sem notoriedade, que na sua fisiologia encuca a rotina e a
alegria vil. Pior, esse bar fica num porão, depois de uma escada que foge em curva
repentinamente da calçada. Esses lugares são o centro do mundo para as pessoas
dessa cidade, e eu não posso dizer que estão errados, porque a superfície da
terra é redonda, mas posso dizer que aqui não é um lugar glorioso, nem
brilhante, nem excitante, tampouco especial. Pato Branco é o nome dessa
desgraça. Não acontece nada aqui que não seja relacionado com motores ou
coberto por propagandas de supermercados ou frigoríficos.
A desgraça desse
lugar não é brutal, não é charmosa, rara nem rica, é uma desgraça pequena, como
uma caligrafia de quem não gosta de escrever, numa história óbvia que não
terminou. E continua não terminando. Essa cidade é um intervalo, e esse bar é
só um bar, e esses jovens não querem mudar o mundo, matar o Temer, conhecer o
buda. A cidade quer crescer, o bar quer lucrar, os jovens querem diplomas,
empregos e sexo.
Sim, eu estou de
saída. no momento que eu voltar a esse texto, daqui uns anos eu vou ser outra
pessoa, vou repensar ele, criticá-lo (sou muito duro comigo mesmo), mas agora,
aqui, em outubro, começo de verão, recém mestrado, estou sentindo isso. Foda-se
você aí no futuro Diego, é o que estou lhe dizendo aqui de 2017, frustrado, em
crise, com o remo quebrado, estalando os dedos, sem um pingo de tristeza e sem
pingos de tesão, desinteressado e observando. Colocando minhas iniciais com um
canivete.
Se eu morrer
amanhã, morri. Com a sensação de quem finalizou o ciclo, e quando foi momento
de celebrar se questionou. Sem respostas claras, e com a noção de que qualquer
resposta seria insuficiente, recomeçou.
[estala-se um
dedo]
[sorri-se]
[olha-se para a
frente, o horizonte reto]
Já fechei esse
bar e já discuti com o dono e um funcionário. Já mudei o mundo ali dentro e vim
pra casa bem apessoado, nunca com cheiro de tabaco. Eu não fumo.
Mas se a terra
fosse plana, ou um bloco, quadricular, etc., ela não combinaria comigo nesse
momento, essa sensação de planície, de equilíbrio vasto, de grande segurança,
não poderiam condizer com isso que eu sinto. Portanto, talvez, a minha
problemática não seja a cidade, ou o bar, mas essa constante sensação de desequilíbrio
que a redondeza da terra me provoca, esse looping do planeta e do tempo que me
deixam tonto, me dão ânsia de vômito e perturbam minha percepção.
Sou o único
sóbrio que é ridículo, tropeça nos buracos das palavras e das relações. Obviamente
não, esse texto é uma grande brincadeira, sou mais seguro do que isso. Todos
são ridículos sóbrios, a diferença de mim pra eles é que eles continuam
ridículos bêbados, eu me torno... menos grosseiro.
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