ranzinza

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terça-feira, 19 de junho de 2018

Tudo mudou
agora somos só eu e você numa cidade de parasitas
Quando a chuva parou alguns dias atrás estávamos exaustos
Na desesperança sentíamos o cheiro que hoje sabemos que é de desamparo
Nunca foi desespero
Sempre foi letargia
Sem baterias, nosso relógio é um osso que faz sombra
Ventava quando soubemos do câncer
Fazia uma semana que a eletricidade tinha sumido
A população de ratos aumentava
Resolvemos estocar comida
Logo depois resolvemos procurar armas
Nossos princípios sorvidos pela verdade

O tempo parece ter parado
Agora somos só eu e você contra a natureza em uma cidade abandonada
Quem um dia acreditou em deus agora está morto e suas vidas deixaram marcas nas paredes
Lembra quando raspei minha cabeça naquele salão lindo?
Achei uma carta de amor na gaveta, decidi não te mostrar
Também vi sangue no chão do estacionamento e decidi não te contar
No dia que tatuei tua cara me senti feliz

Ana, esses auto falantes estarão mudos pra sempre?
Não sei se vou vencer o desespero
Eu olho pra frente no vazio e percebo tanta poesia que parece ter que ser escrita
Mas a humanidade acabou e a linguagem parece ter sido sempre só um sonho
Somos só eu e você numa cidade megalopólica cheia de moscas de verão
Eu deveria ter estudado Saxofone antes de tudo mudar Ana



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