E então eu dormi! Não só dormi como sonhei, e como os sonhos sempre tem um pé na realidade, eu escrevia, mas como o outro pé é numa outra realidade meio que distante, o que eu escrevia era um conto (nunca consegui escrever um conto na minha vida) talvez de algo que acontecesse na França mas tenho a sensação que fosse na Guiana Francesa, o fato é que nos nossos sonhos a realidade e o fantástico estão sempre ligados por uma forma surrada de engembramento ( do Francês: enjambement) e é fácil se perder, assim como as meninas que sonham muito em ser princesas e se acostumam com a fantasia, enquanto do outro lado (no outro pé) os piás do são João querem quebrar as vitrines das lojas de roupas, maquiagens, videogames, tênis, fantasias, enfim, não se acostumam com nenhuma realidade, fico me perguntando se esses piás, que furam a pele e se tatuam com tinta de caneta, sonham como eu sonho quando durmo, com o que sonham? Será que iriam quebrar a vitrine de uma loja de chocolates finos no pé da torre Eiffel se estivessem de férias em Paris? Deve ser muito gostoso sair do bairro são João e comer um petit gateau em Paris, ou será que não? Seria mais prazeroso quebrar a vitrine? Que tipo de culpa esses piás devem sentir? Nos meus sonhos eu não consigo conceber um sentimento de culpa, o existencialismo do Sartre se exacerba, aqui nessas faculdades mentais ininteligíveis, é difícil transportar fatos da realidade dos sonhos e querer interpretá-los na realidade dos vidros que se quebram; meu conto se tratava de um menino, desses negros carecas estereótipos dos jogadores da seleção brasileira muito parecidos com os da seleção francesa (guiana francesa tem seleção?) e já que o mundo é uma bola assim como minha cabeça e os pensamentos andam em círculos assim como minha caneta enquanto eu escrevia o conto o nome do menino era romulo, e todos os ornamentos do seu corpo e os trejeitos dos sons oblíquos do violão afinado numa escala peculiar vindo dos muitos espíritos que apresentou o menino ao longo do conto são costurados enigmaticamente no enrolar do meu trabalho (eu sonhava com a caneta costurando o papel) quando romulo era não muito mais do que um saqueador-agitador-militante cujo objetivo naquele capitulo era conseguir roubar um livro do Platão que dizia que o corpo era uma espécie de jaula da alma e que com a desintegração do corpo a alma se elevaria ao seu lugar natural: o universo; que quando dormíamos a alma flutuava liberta do corpo por todo o mundo, e num diálogo sentado numa mesa com uma menina, com um olho azul e o outro cor de mel, ela explicava pra ele que a alma era enclausurada dentro do corpo novamente no exato momento em que se acordava!
ranzinza

quinta-feira, 30 de junho de 2011
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Eu não queria dormir essa noite
Eu não queria dormir essa noite
Não me sinto confortável em me desligar
Não confio nos passos dos meus pulsos
Como se um enxoval negro fosse me envolver
Estou com medo
Num pandemônio de tragédias
A vida engatinhou até aqui
Memórias derretidas, remoldadas, viram imaginação
Ficcionalizo o futuro
Com dentes plantados nas gengivas
Sou um adulto com medo do escuro
Eu não queria dormir essa noite
Nessas noites meus vizinhos não fazem festa
Condomínios são asilos
Quilos de merda esgotada debaixo do chão
Quilos de gente esgotada na superfície
Demônios subterrâneos
Parecem esperar na porta do meu sono
Eu não queria dormir essa noite
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Como saber se você está apaixonado.
É quando você emotiva o real que você se apaixona.
Quando o cotidiano muda de forma, como olhar o mundo do outro lado de uma garrafa pet cheia d’água, ou olhar pra frente com seus olhos de vidro embaçados depois de uma baforada quente no inverno.
É quando o amarelo do bulbo da lâmpada se torna tristeza caso você não esteja sendo tocado, que te faz perceber que carrega uma paixão.
È o descompasso do fôlego na aproximação dos narizes, e a conseqüente timidez das mãos, a engenharia da tua paixão.
Se pegar desprevenido de assuntos depois de um mergulho em recortes de cenas e fragrâncias, ou o incômodo do toque de músicas clichês, planos para o inverno, primavera e férias, olhar para o telefone e se embebedar de imaginação e angústia por ele continuar quieto, e é quando você banaliza com alegria, e faz com consciência coisas que antes não faria nem bêbado, faz cálculos das horas, dias e minutos, e fica medindo as palavras de todos os ângulos possíveis, e analisa os gestos, é porque você está apaixonado.
Quando o sorvete de baunilha, melancia, côco, kiwi e chocolate, todos tem o mesmo gosto, é porque o teu sábado á noite, vai ser um dos piores sábados a noite da tua vida, caso a outra pessoa não esteja afundando os dedos nos seus cabelos e te encantando com qualquer brincadeirinha com a lata de coca-cola vazia.
É quando você emotiva o real que você se apaixona, e nessas motivações estão as vibrações dos metros de corda do corpo, e vibrar é viver, e também (com certa timidez) é depois de ter costurado centenas de milhares de linhas argumentativas na sua vida e então se pegar escrevendo um texto com uma cara tão boba, que você sabe que está apaixonado.
Ah! A propósito, antes que eu me esqueça, como faz pra saber se você está apaixonado?
Só de você querer saber se está apaixonado, já é um grande indício de que esteja, mas pra tirar a prova real, escreva!
Foto: Leo de Paula
www.andofotografando.blogspot.com
domingo, 13 de março de 2011
Você é de um mimo que só!
Você é de um mimo que só!
Desde criança quando tinha fome, esperneava e chorava, até meterem um peito na sua boca, você chorava ainda mais e fazia tua mãe passar a maior vergonha no supermercado se ela não te desse o chocolate que você queria, e ela sempre deu.
Você sempre culpou a escola, os professores, sempre fez seus pais acreditarem que os seus amigos eram a má influencia, você sempre culpou o mundo e manipulou as coisas dentro de casa, hoje, maior parte do seu tempo você dedica a um mundo virtual, se expõe incansavelmente com frases e fotos, como se todos ouvissem o que você diz ou olhassem pra você!
Por quê? (pergunta que você começou a se fazer tarde demais)
Pois quando sua mãe te dava a porra do chocolate, ela te ensinava a exigir dos outros o que você não conseguia se dar; hoje você não acredita em você mesmo e quer que os outros acreditem em você, você não consegue se olhar e se expõe desesperadamente, faz tudo pra que te olhem, você não consegue se amar, assim exige amor dos outros e transforma sua vida numa cadeia de relacionamentos mal sucedidos, eu te pergunto: o que você vai fazer?
Foto: Leo de Paula
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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Homem
Nossa animalidade por vezes congela o homem que existe em nós, e insensíveis, nossa intuição não nos aproxima de quem gostamos, pois queremos a matéria, a coisa, a carne, mas isso não alimenta, isso mente, não mostra a companhia que você é, não trás ninguém contigo na maior parte da tua vida, que é quando você está sozinho.
A maioria das mudanças que ocorrem em nós, precisam de tempo, mas as vezes de repente, encontramos coisas, nos deparamos com fatos, ou conhecemos pessoas, que fazem agente perceber como um e um só são dois se você vê a sua vida como um jogo, fazem você ver como o animal congelava o homem em você, e então a ausência física não faz mais você se sentir sozinho, a carne só alimenta o ego, e você não precisa mais encher com intenções o seu discurso, não existe nada mais óbvio, nada mais pobre, nada mais animal do que carregar o seu discurso com intenções, dizer uma coisa buscando outra.
De repente você se faz homem e se depara com alguém a ser cuidado, que te faz companhia na maior parte dos seus dias, que é quando você está sozinho.
Foto por: Leo de Paula http://www.andofotografando.blogspot.com/
A maioria das mudanças que ocorrem em nós, precisam de tempo, mas as vezes de repente, encontramos coisas, nos deparamos com fatos, ou conhecemos pessoas, que fazem agente perceber como um e um só são dois se você vê a sua vida como um jogo, fazem você ver como o animal congelava o homem em você, e então a ausência física não faz mais você se sentir sozinho, a carne só alimenta o ego, e você não precisa mais encher com intenções o seu discurso, não existe nada mais óbvio, nada mais pobre, nada mais animal do que carregar o seu discurso com intenções, dizer uma coisa buscando outra.
De repente você se faz homem e se depara com alguém a ser cuidado, que te faz companhia na maior parte dos seus dias, que é quando você está sozinho.
Foto por: Leo de Paula http://www.andofotografando.blogspot.com/
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Os meus olhos e as cidades que conheço

Animais não gostam de ficar acorrentados ou engaiolados, e os moradores de rua mexendo no lixo imaginam uma comida limpa, industrializada; as casas simples se espalham conforme as ruas, veias da cidade, se derramam pelas antigas montanhas, paredes e tetos protegendo crianças, velhos e adultos, do vento, do frio e da chuva, a realidade assim se desenha, fraca, cancerígena, de múltiplas cores e estilos predeterminados, necessidades são criadas em todo mundo, e a felicidade é européia, praiana ou desfila no SPFW.
Nossos olhos divergem toda vez que encontramos nós mesmos, e da mesma forma que a voz dentro da caveira é diferente de fora, nossa imagem é relativa. Nossos sonhos são sonhos de consumo e que o ópio disfarce essa lacuna nas nossas vidas, que os orgânicos que somos, seja mascarado pelas crenças divinas, afinal, nossa necessidade é competir e não necessariamente viver, nossa necessidade é vencer e não necessariamente existir, e assim nos tornamos uma espécie suicida, gloriosa, glamurosa; dentro de cada parede que protege uma família, existe uma TV relativa á sua classe, criando uma necessidade insaciável, e o inferno sendo os outros é também os olhares que te cercam na fila de espera do SUS.
Precisamos aprender a ficar quietos e sozinhos, precisamos respeitar nossas gastrites, nossa dor, nossa paixão, nosso amor, precisamos saber pilotar esses nossos olhos divergentes através das cidades.
Foto por: Leo de Paula http://andofotografando.blogspot.com/
Nossos olhos divergem toda vez que encontramos nós mesmos, e da mesma forma que a voz dentro da caveira é diferente de fora, nossa imagem é relativa. Nossos sonhos são sonhos de consumo e que o ópio disfarce essa lacuna nas nossas vidas, que os orgânicos que somos, seja mascarado pelas crenças divinas, afinal, nossa necessidade é competir e não necessariamente viver, nossa necessidade é vencer e não necessariamente existir, e assim nos tornamos uma espécie suicida, gloriosa, glamurosa; dentro de cada parede que protege uma família, existe uma TV relativa á sua classe, criando uma necessidade insaciável, e o inferno sendo os outros é também os olhares que te cercam na fila de espera do SUS.
Precisamos aprender a ficar quietos e sozinhos, precisamos respeitar nossas gastrites, nossa dor, nossa paixão, nosso amor, precisamos saber pilotar esses nossos olhos divergentes através das cidades.
Foto por: Leo de Paula http://andofotografando.blogspot.com/
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Bilhete á vidente Patobranquense.

(parado na calçada, próximo á entrada da lugar)
Se fossem eficazes tuas previsões, todo meu percurso se desvaleria ao saber do meu fim, e esse que seria o clímax da minha vida se tornaria uma fumacinha óbvia ao fim do fósforo, portanto não adentro ao teu cômodo, pego esses dez reais e compro duas carteiras de cigarro e um chá, antes disso nobremente lhe escrevo esse bilhete.
Att. Diego da Cruz
Se fossem eficazes tuas previsões, todo meu percurso se desvaleria ao saber do meu fim, e esse que seria o clímax da minha vida se tornaria uma fumacinha óbvia ao fim do fósforo, portanto não adentro ao teu cômodo, pego esses dez reais e compro duas carteiras de cigarro e um chá, antes disso nobremente lhe escrevo esse bilhete.
Att. Diego da Cruz
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