A primeira escolha que
tive que fazer ao traduzir a didascália que está no post logo abaixo, estava, obviamente, no título. Mas depois
de breve pesquisa percebi que didascália em inglês era didascalia mesmo, e caption
era meio que outra coisa. Portanto essa não era daquelas escolhas que fazem a
gente se orgulhar e tomar nota.
Traduzindo as
três didascálias do César Eduardo Carrión eu encarei vários destes obstáculos
intransponíveis da tradução, e o primeiro estava logo no primeiro verso, que
era aparentemente muito simples à tradução: “¿Dónde fuiste a buscar las palabras cuando eras un
niño?” Em
português a tarefa é ideal, tendo em vista a proximidade original das duas
línguas. Agora, reverter esse “foste buscar as palavras...” para o inglês me
incomodou. A princípio escolhi Where did
you search the words ... tendo em mente a ideia de que como se tratava de
palavras, um termo em inglês relacionado às pesquisas – search - era o ideal, e passei batido aos versos
seguintes.
Como
método eu estava ruminando o todo da poesia, após escrever o seu bruto em
inglês, e percebi que search era
muito teórico e anulava algum tipo de conceito prático, geográfico, físico,
ativo, que existe na poesia, que trás versos que constroem imagens muito aquém da
ideia de ir buscar palavras apenas teoricamente - semear uma horta e um jardim,
ter uma casa derrubada, comprar preservativos, aspirinas e brindar memórias -
houve deslocamento, trabalho e ação na busca dessas palavras no tempo da
infância. Portanto esse Where
did you search for the words when you were a child? ... Não era fiel a “¿Dónde fuiste a buscar las
palabras cuando eras un niño?”
O sujeito foi
mesmo buscar as palavras, não apenas as pesquisou – eis a questão. Talvez as
tenha ido buscar lá na infância e as esteja brindando agora. E essa interpretação
– sim, interpretação é o pulso da tradução - me levou a hunt, mas esse termo parece um pouco sólido
demais para a ideia de “ir buscar as
palavras”, como um oposto extremado de search.
“Look for”? procurar
meio preguiçosamente, meio que apenas olhando? No way.
Cheguei enfim
a seek. Que oferece uma imagética de
busca e apreensão e perseguição aos leitores english speakers. E apesar de todos os pesares de se traduzir, seek me pareceu o menos pior nesse
esbugalhamento que é levar de um mundo ao outro algo tão sutil. Hoje do Ecuador às línguas
inglesas.
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